
Na paisagem da lembrança, tantas cenas que entrelaçam gestos e afetos. Imagens que como florzinhas de “amor perfeito” eu colhi para enfeitar a casa, o coração. Lembranças que despertam em mim, sensações de uma doçura indizível. E que ao escrevê-las, as guardo imaginariamente numa caixinha de segredos feita de pano de chita e fita de cetim. Para que nela vivam as cores do tempo dançado no baiadô. Entre os afazeres, de cortar, costurar, pregar, enfeitar, dançar, tocar e cantar, vejo nesses gestos, uma inocência que pra mim se traduz numa forma de rezar pela alegria do mundo.
Como esquecer os falatórios, as expressões dos rostos, os gestos do corpo, os risos, a linha e agulha nas mãos que confecciona flores de chita, que borda a bandeira, que tece os olhos de Deus, de homens e mulheres, de meninos e meninas. Um processo solidário, em que juntos, todos trabalham um mesmo “tecido chamado baiadô” , bordando nele, memórias com fios de bem querer. Pontos cheios de suspiros...
Em mim dança a lembrança, da lua crescente no céu da nossa festa, da fé na prece que apressa Santo Antônio com querências de matrimônio. Dos versos cantados, do corpo girando e da saia rodando. Da poeira levantada no passo da dança, onde os pés nus acariciavam o chão da praça. Dos afetos partilhados na ciranda da dança e da vida.
No domingo voltei pra casa, enamorada dessa simplicidade de sujeira nos pés, água nas mãos, cantiga na boca, acontecências que faz crescer lua cheia no coração.
Uberlândia, ventos de outono em 2011.
Beijo vocês com o bem querer do meu amor.
Joyce
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